Uma das tácticas que usei no meio da minha luta por conseguir normalizar a situação escola vs filho foi a de mudar as regras de casa.
Até aquela altura nunca
tinha sentido a necessidade de ser rígida porque como falo ao longo do livro a
educação destas crianças não tem de ser igual à que nos foi incutida
tradicionalmente. Sempre tentei adaptar-me ás situações do dia-a-dia de uma
forma ligeira e penso que tenho feito um bom trabalho pois além das excelentes
notas na escola é uma criança prestável, muito educado, sempre pronto para ajudar
nas lides da casa, não tenho qualquer razão de queixa.
Apesar de tudo pensei que se
mudasse as regras de casa ele ia entender que mais cedo ou mais tarde teria de
mudar de atitude perante a escola ou pelo menos seria uma forma dele ver a
diferença entre o que ele conhecia e um ambiente mais rígido.
Uma das tácticas que utilizei
foi a de eliminar completamente a TV e o tablet durante a semana para desta
forma termos mais tempo para conversar e brincar e fazer os trabalhos de casa
antes de ir dormir.
Ele até gostou da ideia pois
acabávamos por brincar mais que o habitual e isso era óptimo mas certo dia, ao
fim de uma semana com esta táctica lá veio ele dar-me mais uma lição lá do alto
da sua sabedoria. íamos no carro no caminho da escola para casa e ele perguntou-me:
- Mãe, posso fazer-te uma pergunta? Se são os outros meninos que chamam nomes e
são mal-educados, e são os outros meninos que batem e são maus, porquê que sou
eu que sou castigado?
E mais uma vez ele me deixou
sem palavras, claro que ele tinha razão, o pequeno sábio soube analisar a
situação na perfeição e chamou a minha atenção para as minhas escolhas naquela
situação.
Bem a boa notícia é que com
a cooperação da professora, dos auxiliares da escola e da psicóloga infantil o
meu filho voltou ao ritmo normal que lhe era habitual na escola e o problema
foi superado.
Garanto-vos que foi uma fase
bem complicada como mãe, sozinha a lidar com o sofrimento diário do filho, daí
surge a minha vontade de partilhar estas experiências que de alguma forma sei
que muitos pais poderão estar a passar por situações semelhantes, e assim de
alguma forma contribuir para o equilíbrio e bem-estar de outras famílias.
Uma das características dos
cristal é a sensibilidade, e como tal quando acontecem situações como a que
descrevi da escola, a auto-estima deles desce imenso ao ponto de acharem que não
sabem fazer nada, que não são bons em nada e que ninguém gosta deles.
No meu caso tive a sorte
dele ser extrovertido na personalidade e como tal fala muito o que não é vulgar
nas crianças cristal, e foi uma excelente ajuda para entender e chegar ao
problema mais rapidamente. Mas aproveito para chamar a atenção com esta
história pois na maior parte dos casos as crianças cristal ficam em silêncio e
sofrem sozinhos, e muitas vezes até escondem dos próprios pais e o tempo vai
passando até que começam a ser vitimas de bullying, ou ficam doentes com vírus desconhecidos
que aparecem e desaparecem sem qualquer explicação médica ou em casos mais
radicais começam a Auto mutilar-se para se castigarem por serem diferentes e de
alguma forma chamarem a atenção de alguém que os possa ajudar.
É importante os pais terem
conhecimento desta fragilidade característica dos cristal para poderem intervir
o mais rapidamente possível.
E é também importante que seja
transmitido aos cristal nestas situações que não estão sozinhos, que são
compreendidos e ajudá-los a trabalhar e fortalecer a sua auto-estima seja com actividades
em que eles se sintam válidos, seja com terapias ou muitas outras soluções possíveis
conforme as possibilidades de cada família.