quarta-feira, 10 de maio de 2017

A aceitação da diferença

Um dos grandes desafios que estas crianças trazem para trabalhar é a aceitação da diferença. Em que sentido? Aceitar que as outras pessoas não são como eles, ou pelo menos a grande maioria que os rodeia.
É nessa fase da vida da criança que é importante os educadores redobrarem a atenção e acompanharem da forma mais equilibrada possível, mas deixo desde já o aviso que não é nada fácil.
Como mãe de um cristal tão completo procuro sempre saber mais, mantenho-me informada, leio, pesquiso, investigo tudo sobre esta temática e ainda assim encontrei-me numa situação bastante complicada durante alguns meses.
O meu filhote começou a criar aversão á escola, ao ponto de entrar em pânico e começar a gritar e a chorar sempre que parava o carro perto da escola. Assim que estes ataques começaram tentei logo procurar a origem desse pânico, tendo certeza que algo estaria a acontecer de sério uma vez que ele sempre adorou a escola e sobretudo aprender coisas novas.
Depois de muitas conversas com ele, com a professora, com os colegas, com os auxiliares de educação e posteriormente com a ajuda de uma psicóloga infantil cheguei á resposta que procurava.
O meu filhote estava com dificuldade em aceitar a diferença entre ele e os outros meninos, não conseguia entender porque eles diziam asneiras e se chamavam nomes se isso para ele é ser mal-educado e ofensivo! Para o meu filho até chamar de totó é uma ofensa, mesmo que seja a brincar pois chamar nomes para ele é feio e mal-educado. E além disso os meninos da idade dele empurram-se e têm brincadeiras consideradas normais para a idade mas algo agressivas que para o meu filho é ser mau e faltar ao respeito.
Uma das táticas que utilizei para tentar trabalhar a auto-estima e capacidade de resposta e defesa foi ensinar-lhe a dar respostas como se fosse um jogo, ou seja, se alguém lhe chamasse um nome feio ele tinha que responder chamando outro nome. Isto para evitar ele encolher-se e chorar todo ofendido o que acabava por ser pior uma vez que era gozado por chorar.
Também sempre lhe transmiti que nunca devia bater em ninguém, mas que se alguém lhe batesse ou o magoasse que aí sim ele deveria bater ainda com mais força. Ele bem tentou…
Certo dia, estávamos nós nesta luta em que eu já lhe pedia por favor para ele não chorar, que ia ser um dia bom, ele fez um grande esforço para se manter calmo, não chorou o caminho todo e quando estacionei o carro perto da escola ele perguntou: - Mãe, posso falar contigo? Eu claro que concordei e ele continuou: - mas prometes que me ouves até ao fim sem me interromper e que no final ficamos aqui um bocado no carro sem pressa para sair? – Eu claro que aceitei e ele continuou falando sempre muito sério com uma lágrima a cair-lhe pelo rosto: - sabes mãe, eu sei que quando os meninos me chamam nomes tu queres que eu lhes responda e chame nomes também, e também sei que quando os meninos me batem, tu queres que eu lhes bata também, mas sabes uma coisa mãe? Eu não consigo, eu estou a sofrer tanto… porquê que eu tenho que chamar nomes se eu não sou mal-educado? E porquê que eu tenho que bater se eu não sou mau? Eu não consigo mãe, eu não consigo fazer isso e estou a sofrer tanto…

Como devem imaginar o coração naquele momento deve ter ficado do tamanho de uma ervilha de tão apertado que estava, nem sei como aguentei não chorar naquele momento, apenas lhe mostrei compreensão, que entendia tudo o que ele me estava a dizer, que concordava com ele e sabia o quão difícil era mas que vivemos em sociedade e temos que aprender a aceitar a diferença, que nem toda a gente age ou pensa como nós e como não podemos modificar isso temos que aprender a aceitar. E lá fomos para o portão da escola abraçados com o coração bem apertado… continua…