Um dos grandes desafios que
estas crianças trazem para trabalhar é a aceitação da diferença. Em que
sentido? Aceitar que as outras pessoas não são como eles, ou pelo menos a
grande maioria que os rodeia.
É nessa fase da vida da
criança que é importante os educadores redobrarem a atenção e acompanharem da
forma mais equilibrada possível, mas deixo desde já o aviso que não é nada
fácil.
Como mãe de um cristal tão
completo procuro sempre saber mais, mantenho-me informada, leio, pesquiso,
investigo tudo sobre esta temática e ainda assim encontrei-me numa situação
bastante complicada durante alguns meses.
O meu filhote começou a
criar aversão á escola, ao ponto de entrar em pânico e começar a gritar e a
chorar sempre que parava o carro perto da escola. Assim que estes ataques
começaram tentei logo procurar a origem desse pânico, tendo certeza que algo
estaria a acontecer de sério uma vez que ele sempre adorou a escola e sobretudo
aprender coisas novas.
Depois de muitas conversas
com ele, com a professora, com os colegas, com os auxiliares de educação e
posteriormente com a ajuda de uma psicóloga infantil cheguei á resposta que
procurava.
O meu filhote estava com
dificuldade em aceitar a diferença entre ele e os outros meninos, não conseguia
entender porque eles diziam asneiras e se chamavam nomes se isso para ele é ser
mal-educado e ofensivo! Para o meu filho até chamar de totó é uma ofensa, mesmo
que seja a brincar pois chamar nomes para ele é feio e mal-educado. E além
disso os meninos da idade dele empurram-se e têm brincadeiras consideradas normais
para a idade mas algo agressivas que para o meu filho é ser mau e faltar ao
respeito.
Uma das táticas que utilizei
para tentar trabalhar a auto-estima e capacidade de resposta e defesa foi
ensinar-lhe a dar respostas como se fosse um jogo, ou seja, se alguém lhe
chamasse um nome feio ele tinha que responder chamando outro nome. Isto para
evitar ele encolher-se e chorar todo ofendido o que acabava por ser pior uma
vez que era gozado por chorar.
Também sempre lhe transmiti
que nunca devia bater em ninguém, mas que se alguém lhe batesse ou o magoasse
que aí sim ele deveria bater ainda com mais força. Ele bem tentou…
Certo dia, estávamos nós
nesta luta em que eu já lhe pedia por favor para ele não chorar, que ia ser um
dia bom, ele fez um grande esforço para se manter calmo, não chorou o caminho
todo e quando estacionei o carro perto da escola ele perguntou: - Mãe, posso
falar contigo? Eu claro que concordei e ele continuou: - mas prometes que me
ouves até ao fim sem me interromper e que no final ficamos aqui um bocado no
carro sem pressa para sair? – Eu claro que aceitei e ele continuou falando
sempre muito sério com uma lágrima a cair-lhe pelo rosto: - sabes mãe, eu sei
que quando os meninos me chamam nomes tu queres que eu lhes responda e chame
nomes também, e também sei que quando os meninos me batem, tu queres que eu lhes
bata também, mas sabes uma coisa mãe? Eu não consigo, eu estou a sofrer tanto…
porquê que eu tenho que chamar nomes se eu não sou mal-educado? E porquê que eu
tenho que bater se eu não sou mau? Eu não consigo mãe, eu não consigo fazer
isso e estou a sofrer tanto…
Como devem imaginar o
coração naquele momento deve ter ficado do tamanho de uma ervilha de tão
apertado que estava, nem sei como aguentei não chorar naquele momento, apenas
lhe mostrei compreensão, que entendia tudo o que ele me estava a dizer, que
concordava com ele e sabia o quão difícil era mas que vivemos em sociedade e
temos que aprender a aceitar a diferença, que nem toda a gente age ou pensa
como nós e como não podemos modificar isso temos que aprender a aceitar. E lá
fomos para o portão da escola abraçados com o coração bem apertado… continua…
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