Existe uma característica
importante nas crianças cristal que mais cedo ou mais tarde acaba por se
manifestar. No meu caso foi bem cedo mas como acredito que nada acontece por
acaso provavelmente aconteceu na altura certa.
A dada altura apercebi-me
que o meu filho falava do ferry num tom menos bom, como se o ferry fosse mau e
não fosse um anjo. E esta mudança coincidiu com outras visões que o meu filho
começou a ter e que com a mesma credibilidade que quando ele falava nos anjos
começou a ter medo e a descrever outros seres que iam ter ao quarto dele à noite.
A frequência era tanta que
ele começou a ter medo do escuro e não queria dormir sozinho no quarto dele. Eu
tinha que me deitar com ele até ele adormecer ou então ele vinha deitar-se na
minha cama.
Uma noite ele via uma menina
escondida por trás do cortinado, na noite seguinte era um menino por baixo da
secretária, outra noite era um homem todo de preto muito alto e o meu sinal de
alarme foi quando ele descreveu a tremer um monstro com chamas na cabeça.
Acreditando desde sempre na
veracidade da capacidade de visão do meu filho nunca duvidei que ele estava
mesmo com medo e que a nossa casa se tinha transformado num local de passagem
para todo o tipo de entidades.
Algo importante que fiquei a
saber na altura era que como cristal o meu filho tinha uma luz muito forte e
esta luz atraía entidades como se se tratasse de uma vela a iluminar um caminho
escuro.
Eu tinha mesmo que aprender a fazer algo para conseguir proteger o meu
filho. Como não sabia o que fazer a minha intuição dizia-me para rezar e pedir
a Deus para encaminhar aquelas almas e sobretudo para as afastar do meu filho
para ele poder dormir em paz.
Com o passar do tempo a minha mediunidade foi
desenvolvendo e comecei a sentir e ouvir as presenças mesmo antes do meu filho
me dizer que ali estavam. Hoje sinto que foi uma sincronicidade nos
acontecimentos onde a minha vontade de proteger a minha casa e o meu filho me
foi mostrando os meios por onde eu devia ir de forma a evoluir e claro está, com
empurrões tão grandes que apressaram tudo para um ritmo alucinante de
acontecimentos e desenvolvimento.
Foi mais ou menos neste
seguimento que surgiu o pior período da minha vida, mas talvez um período
necessário onde aprendi tanto sobre o outro lado.
Começou a ser frequente o
meu filho falar no “homem mau” como estando presente em nossa casa, e o mais
assustador era que já não aparecia só de noite, também se manifestava durante o
dia de várias formas.
Num feriado aproveitei que
não ia trabalhar e combinamos ir visitar o meu pai cuja casa ficava a meio do
caminho entre o trabalho do meu ex-marido e a nossa casa. Ainda eram cerca de
300 km que tive que percorrer conduzindo sozinha com o filhote.
Partimos de manhã bem cedo
para aproveitar o dia e partimos já de noite cada um de regresso a sua casa.
Mais ou menos a meio do percurso o meu filho pediu-me para desligar a música
porque queria falar comigo.
Desliguei o rádio e disse
que podia falar. Ele com uma voz algo preocupada disse: Sabes mãe o ferry está
triste… perguntei se o ferry estava ali connosco na carrinha e ele disse que
não, que estava em casa no quarto dele. Então perguntei por que motivo o ferry
estava triste e ele respondeu: porque ele tem um dói-dói na barriga... na
altura não percebi como era possível isso acontecer com um anjo e fiquei ainda
mais impressionada com a necessidade que ele teve de me contar essa informação
quase ás 22h a caminho de casa e de que forma conseguia ele captar essa
informação num dia em que passámos o tempo todo a quilómetros de distancia da
nossa casa! Era estranho e não percebi.
Passado uns dias perguntei
ao meu filho se o ferry ainda tinha dói dói e ele reagiu mal dizendo: chô ferry
chô… vai embora ferry…
Quando questionei porque
estava a dizer isso foi quando percebi o que estava a acontecer. O homem mau
por vezes disfarçava-se com a aparência daquilo que o meu filho identificava
como ferry para o enganar e estar mais próximo dele. Percebi que quando o ferry
acordou o meu filho tocando-lhe na cara não foi o anjo e sim a entidade
disfarçada por isso ele ficou tão zangado e revoltado.
E também foi nesta
altura que ele deixou de falar do ferry porque provavelmente como mecânica de
defesa ele começou a fazer a distinção entre anjos e maus. Foi quando ele
começou a usar o nome anjo para os seres de luz e sempre que eu lhe perguntava
sobre o ferry ele dizia muito rapidamente: chô ferry chô… já foi embora mãe…
Também fiquei a perceber que
fazia sentido o facto de eu começar a ouvir e a sentir as presenças menos boas
uma vez que isso dificultou que se pudessem disfarçar ou que tentassem enganar
tanto a mim como ao meu filho.
A energia de amor que se sente na presença dos
anjos não se compara ao frio e incómodo que se sente na presença de “maus”. A
minha intuição foi-se apurando com o passar do tempo e isso fez com que eu
continuasse a minha investigação e procura de conhecimentos sobre o que poderia
eu fazer para proteger a minha casa e o meu filho.