terça-feira, 21 de março de 2017

A alma do cão


Temos um cão que eu digo que foi co-criado pelo meu filho. Num dia quente em Agosto, eram férias de verão, estávamos os dois a preguiçar na cama enquanto assistíamos a um daqueles programas sobre veterinários e animais domésticos. Motivado pelo programa o meu filhote lamenta que adorava ter um cão e começa a pedinchar insistentemente para irmos a uma loa de animais comprar um cão: por favor… por favor… por favor… e beicinho a acompanhar

Passado algumas horas fui verificar a caixa do correio na rua e vejo que está um cão encostado ao portão que mal me vê faz uma recepção e uma festa tal como se eu fosse a dona dele. Fiquei com pena pois estava imenso calor, quase não havia sombras e ele devia ter sede ou até fome. Fui buscar água para lhe dar e alguns restos que tinha no frigorífico.

Nessa tarde fui dar um passeio com o filhote e quando regressámos a casa lá estava o cão à nossa espera com uma grande recepção de alegria tal como se fossemos os donos, e foi ficando dia após dia até que decidi dar-lhe um lar.

Foi um cão abandonado que veio de alguma forma encaminhado até à nossa porta, numa zona com centenas de moradias ele escolheu a nossa.

Sendo ele um cão meigo e educado percebi que o podia libertar na rua de vez em quando para ele dar uma volta uma vez que moro numa zona calma com áreas de relva e árvores bem perto, e ele lá dava uma volta ao quarteirão sozinho e regressava sempre feliz pelo passeio.

Num desses passeios aconteceu algo menos bom, a zona é calma e passam poucos carros pois só passa pela urbanização quem realmente mora lá mas num desses passeios ele foi atropelado por um carro, levou uma pancada ligeira mas o suficiente para criar fissuras em duas partes de uma das patas dianteiras. Ele conseguiu andar na mesma e chegou a casa a coxear e visivelmente magoado. 

Esse acidente obrigou-me a ir várias vezes ao veterinário para ir mudando as talas e ele teve que usar um colarinho tipo funil para o impedir de lamber ou remover os pensos, ainda demorou uns meses com os tratamentos. Sempre que podia ia ao veterinário na hora de almoço mas por vezes só podia ao fim do dia e nesses casos levava o meu filhote comigo.

Num dia no regresso a casa após um dia de escola o meu filho diz-me: “sabes mãe, ontem falei com a alma do cão”
- Ai sim?!! – comentei eu surpresa e o que te disse a alma dele?
- Bem, não foi bem falar, foi mais em pensamento, como se eu entrasse na cabeça do cão e ele disse: “estou tão triste”, “a minha pata dói tanto”, “quando chega a minha dona?”

Se de facto é real que somos todos um e que estamos todos ligados, então sim faz todo sentido, no fundo é uma comunicação de emoções via telepática, e é fantástica esta capacidade de comunicação entre o homem e o animal.

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